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Source: http://madforyou.tumblr.com/ |
Ontem eu casei com um estranho no metrô. Você nunca fez isso? Será que sou só eu? Bom, só, só eu não sou, afinal, o estranho também casou com uma estranha no metrô, no caso, eu. Só que ele não sabe disso.
Eu faço isso sempre, e sempre no metrô, ou então no ônibus. Eu encontro um alguém qualquer, que me pareça o mínimo interessante e construo uma vida inteira numa fração de segundo. E eu não sei nem o nome da criatura, mas a gente se dá muito bem e é muito feliz. Levávamos nosso cachorro para passear todo dia de manhã antes de irmos trabalhar, de quinta-feira jantávamos a luz de velas, e de sexta íamos ao barzinho em frente ao nosso apartamento, nosso filho teve jogo de futebol na escola, minha mãe gosta mais dele, o estranho, do que de mim, mas acabou.
Tão rápido quanto o tempo entre uma estação e outra, quando o metrô não pára para aguardar o trem à frente, toda essa vida construída se dissipa pelo ar parado do vagão, no momento em que as portas automáticas se abrem. E ao ouvir aquele sol sustenido (não, é claro que eu não sei a nota musical do barulho do metrô) avisando que elas vão se fechar, é como se nada tivesse acontecido, não resta nada, nenhuma lembrança, nada de fotografias emboloradas ou pingentes sem cordão. Nem sinal de vida.